sábado, 29 de maio de 2010

O pôr do sol e a orquídea


O sol estava se pondo.

O pôr do sol a fez lembrar-se do seu pai.

E ela começou a falar.

Ele estava mortalmente enfermo e sabia disso.

Ela abandonou o seu trabalho para estar com ele.

E conversaram sobre a partida que se aproximava, tranquilamente.

Aqueles que aceitam a chegada da morte ficam tranquilos.

Disse-me que a hora que seu pai mais amava era o crepúsculo.


Desde menina, ele se assentava com ela e ia mostrando a beleza das nuvens incendiadas, a progressiva e rápida sucessão das cores: azul, verde, amarelo, abóbora, vermelho, roxo...

À medida que a morte se aproximava, a fraqueza aumentava.

Mas, mesmo fraco, queria ver o pôr do sol.

Talvez pela irmandade de um homem que morre e um sol que se põe.

Numa dessas tardes, ela não conseguiu conter as lágrimas.

Chorou. Ele a abraçou e colocou seu dedo sobre seus lábios.

"Não quero que você chore..."

E, apontando para o sol que se punha, disse:

"Eu estarei lá..."

E contou-me também de uma orquídea que silenciosamente acompanhou esses momentos de despedida.

A orquídea, depois que seu pai partiu para o pôr do sol, se recusou a parar de florir...

Será que o seu pai foi morar na orquídea?


É possível...

O belo texto de Ruben Alves aborda, com delicadeza, uma temática muito comum nos textos espíritas.

A Doutrina dos Espíritos tem como arcabouço maior a imortalidade da alma.

Foram as vozes dos Imortais que se fizeram ouvir através da mediunidade segura e confiável de jovens francesas.

Foram essas vozes que bradaram:

A morte não existe!

Estamos aqui!

Mais vivos do que nunca!

Estamos no pôr do sol.

E foram esses Espíritos, almas que já haviam vivido na Terra, que iniciaram o processo de elaboração da chamada Codificação Espírita.

A autoria do Espiritismo é dos Espíritos em conjunto com Kardec.

Foram os seres que já se encontram no pôr do sol que anunciaram verdades confortantes aos amigos encarnados na Terra.

A orquídea que nunca deixa de florir é similar à alma humana.

Nunca deixa de existir, nunca deixa de crescer e florescer.

Haverá dia em que iremos encarar a morte de forma diferente.

Uma separação temporária que, às vezes, nem mesmo separação o é - se considerarmos que entre almas não necessita haver afastamento.

O amor não se perde nunca, pois ele não está no outro, está em nós.

O ser amado ora está aqui, ora acolá, nesses tantos ir e vires da vida, mas isso não faz o amor fenecer nem desistir de amar.

O amor, por ser criação de Deus - como tudo, Nele confia sempre.

Nele se fortalece.

Que as inevitáveis separações da vida possam ser vistas de ângulos diferentes daqueles de sempre.

Não perdemos ninguém, pois a ninguém possuímos na verdade.

Ninguém deixa de existir, pois a morte não existe.

É apenas um momento de transição de um estado de vida para outro.

Todos vivem.

Todos viveremos.



Momento Espírita

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