segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Evangelho de Judas

 

Quem terá sido aquele personagem que multidões espancam e queimam na Páscoa?
Todas as igrejas cristãs afirmam ser ele o traidor de Jesus, que entregou seu mestre e salvador por moedas de prata.
Mas será que essa é a única versão da história?
Ele nega tudo.




Já não é segredo que a Igreja excluiu muita coisa da Bíblia.
No primeiro século já existiam pelo menos 30 evangelhos diferentes, cada um com versões diversas da história de Jesus.
Foi em 180 EC que o bispo Irineu de Lyon, buscando unificar o conjunto de crenças cristãs – que se espalhava por várias igrejas e escritos -, selecionou os quatro evangelhos atuais como canônicos e decretou que os demais eram heréticos.
Contudo, graças a monges do Egito, que mantiveram os apócrifos escondidos, pudemos fazer uma descoberta impressionante.

Descoberto em 1978, o Evangelho de Judas inaugurou novas dúvidas e discussões a respeito da veracidade dos evangelhos considerados canônicos. Ele faz parte de um códice datado entre 220 e 340 EC, e é constituído de 26 páginas.
Sua existência já era conhecida há muito tempo, visto que já havia sido citado pelo bispo Irineu em uma carta escrita em 180 EC.
Segundo o evangelho, Judas não teria traído Jesus, mas sido cúmplice dele.

Judas deve ter nascido em Kariotes, um vilarejo ao sul de Hebron, importante cidade da Judéia.
Caberia a ele espalhar a mensagem de Jesus, que por sua vez era galileu.
Como o povo da Judéia considerava os galileus ignorantes, o fato de Judas falar de Jesus com tanta consideração poderia contribuir para firmar a imagem de seu mestre entre os judeus, tarefa de grande importância.
Nos textos encontrados, mostra-se que Jesus tinha grande consideração pelo apóstolo.

Uma passagem diz que, certa vez Jesus riu dos apóstolos, pois, segundo ele, eles não rezavam por vontade própria, mas para tentar agradar a deus.
Os apóstolos imediatamente começaram a “blasfemar contra ele em seus corações”, exceto Judas.
Notando que Judas tinha melhor entendimento de suas palavras, Jesus se propôs a ensiná-lo “os mistérios do reino”, dizendo, contudo, que ele sofreria por conhecê-los.
Jesus disse que havia dois deuses distintos: um governante e criador do mundo material e outro do mundo espiritual.
Para alcançar o bondoso deus do mundo espiritual seria necessário “livrar-se da vestimenta humana”, e isso seria alcançado por Jesus através da suposta traição de Judas.

Certas pistas sobre essa versão da história já haviam sido dadas antes pelos evangelhos canônicos.
Em algumas ocasiões Jesus mostrou que tinha conhecimento de que seria traído por um de seus apóstolos.
Além do mais, embora o evangelho de João descreva Judas como ganancioso e ladrão, o evangelho de Marcos diz que a recompensa das 30 moedas não foi requisitada por ele, mas oferecida pelos sacerdotes.

É fato que o evangelho de Judas não foi escrito por ele, e que é uma cópia em copta (dialeto egípcio que usava caracteres gregos) de um texto mais antigo, escrito por um autor gnóstico.
Mas os demais também não foram escritos por aqueles que lhes dão nome. Todos os quatro supostos escritores dos quatro evangelhos canônicos já haviam morrido quando eles foram escritos.

Mesmo sem essa certeza, esses escritos devem ter causado grande pavor a Igreja nos primeiros séculos depois de Cristo.
A Igreja precisava de um traidor para mostrar aos fiéis que, embora lhes seja dado livre-arbítrio, a guarda e direção da Igreja são necessárias para que não se mergulhe na perdição, como supostamente ocorreu a Judas.

Esse tipo de rebatimento dos dogmas da Igreja levou o bispo Atanásio de Alexandria a ordenar a destruição dos apócrifos em 367 EC.
Graças aos monges, que davam grande valor a tais escritos, essas informações tão valiosas ficaram sob a guarda da terra, protegidas da Igreja, até chegarem a nós.

O papa Bento XVI negou bênção ao novo evangelho afirmando que seu protagonista é soberbo em achar que não precisa da purificação e da vontade salvadora de deus.
Fato é que, verdadeiro ou não, santo ou não, o Evangelho de Judas traz uma nova versão do martírio do messias, despertando novas dúvidas entre o meio religioso sobre a autoridade da Igreja para definir o que entra e o que sai do conjunto de dogmas e mitos cristãos.


Referências

National Geografic – O Evangelho Segundo Judas. Diretor: James Barrat. EUA, 2006
http://historia.abril.com.br/gente/judas-iscariotes-traidor-heroi-434689.shtml
http://super.abril.com.br/religiao/evangelho-judas-446400.shtml

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