quarta-feira, 13 de março de 2013

Zarathustra e o zoroastrismo

O "Faravahar" - símbolo mais conhecido do zoroastrismo, representa a alma humana

A origem do zoroastrismo remonta a meados do século VI aC. A "nova religião" foi fundada pelo profeta persa Zarathustra, também chamado Zoroastro.
Na realidade, muitos usam indistintamente os nomes “Zarathustra” e “Zoroastro”, mas há uma diferença básica entre os termos: “Zoroastro” indicava, na Pérsia antiga, uma determinada classe de eminências, uma dinastia religiosa.
Assim sendo, existiram diversos zoroastros - Zarathustra foi um deles (o último).
Mesmo assim, não está totalmente incorreto usar o termo “Zoroastro” para designar o personagem histórico, porque ele é considerado “o” Zoroastro por excelência, ou o maior dos Zoroastros.


Vida de Zarathustra

Detalhes da vida de Zarathustra são um grande mistério.
Alguns pesquisadores chegam a apontar que tenha vivido em meados de 1500 aC.
 
Mas as mais confiáveis informações existentes a seu respeito vêm do “Avesta” e do “Pahlavi” (livros sagrados), como também de alguns documentos gregos e relatórios romanos.
 
À época de Zarathustra, a sociedade persa estava dividida em classes ou castas, e isto se refletia na religião: cada casta possuía seus deuses, cuja importância era proporcional à sua camada social. Zarathustra, observando esta realidade e insatisfeito com a situação social do seu país e as posições filosóficas vigentes, iniciou sua busca pessoal.
 
Segue sua história segundo a tradição religiosa:

Provindo do noroeste do Irã e filho de sacerdote, aos l5 anos de idade realizava obras religiosas e chegou a ser reconhecido por sua grande bondade para com os pobres e com os animais.
 
Aos 20 anos deixou o lar e passou sete anos em solidão, em uma caverna numa montanha.

Quanto tinha a idade de 30 anos dirigiu-se para o rio Daiti e, ao cruzá-lo, seu corpo submergiu na água - primeiro até os joelhos, depois até a cintura, e por fim até o pescoço.
 
Após atravessar para o outro lado ele executou o “Yasna” (um ritual também chamado ‘Rito de Ijashne’); e então se apresentou a ele uma entidade brilhante, em chamas, que lhe perguntou o que desejava.
 
Zarathustra expressou o seu desejo de entender a Verdade, e então todas as perguntas que lhe atormentavam desde sempre foram respondidas.

A entidade ardente era a “Divindade da Mente Boa”, e como o maior desejo de Zarathustra era realmente aprender sobre a Natureza e o Ser Supremo, esta lhe disse para fechar os olhos e o transportou ao Tribunal do Deus Supremo, "Ahura Mazda", a quem Zarathustra estivera buscando de coração e alma, por toda sua vida. Deus estava ladeado por outras divindades poderosas, e Zaratrusta pediu então por uma compreensão quanto ao tipo de Ser que era Ahura Mazda.
 
Este lhe revelou que era o Verdadeiro, aquele de quem se originou o Amor e tudo que podia fazer as pessoas felizes.
 
Aquele que deu origem ao fogo, à água e aos animais, com consideração e reverência, e que agia como seu Protetor.
 
Que as pessoas deveriam ser íntegras no mundo dos homens, pois só assim poderiam chegar a ter felicidade e se tornarem imortais.

Depois disso, Zarathustra continuou seus estudos e concluiu que o mundo é um lugar bom, criado por um Deus bom, generoso e amoroso, cujo desejo é que todos os homens sejam felizes.
 
- Tendo chegado a estas conclusões, então com 40 anos, desenvolveu a nova religião que iria substituir o politeísmo e que possuía um lado filosófico e outro prático, para ser usado na vida cotidiana.

Para transmitir esses ensinamentos, Zarathustra peregrinou por várias regiões, por muitos anos.
 
As autoridades civis e religiosas opunham-se às suas doutrinas, e após doze anos de pregação ele abandonou sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa, na Báctria (região onde se encontra hoje o Afeganistão).
 
Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zaratustra, e o zoroastrismo foi declarado religião oficial daquele reino.
 
Este foi apenas o começo da história do zoroastrismo, o inicio da grande difusão dos ensinamentos de Zarathrusta e de uma grande reforma.
 
Logo em seguida outras cortes seguiram os passos do rei Vishtaspa e mais tarde o Zoroastrianismo chegou a ser a religião oficial de toda a nação persa e a maior então existente.

Zaratustra foi casado duas vezes e teve vários filhos.
 
Morreu aos 77 anos de idade, assassinado por um sacerdote enquanto se encontrava orando em frente ao fogo sagrado no templo.

Os livros sagrados do Zoroastrismo
O “Avesta” ou “Zend Avesta” - o livro sagrado das orações, hinos, rituais, instruções, práticas e leis; composto de três partes:
1 - "Vendida", que contém as leis religiosas e as histórias míticas antigas;
2 - "Visparad" e
3 - "Yasna", que segundo a tradição, contém a conversa entre Zaratustra e Ahura (Deus).

Os “Gathas” - parte do Avesta, é uma coletânea de cânticos atribuídos a Zarathustra, metrificados em língua arcaica e onde encontra-se a sistematização da religião.
Os Gathas são constituídos de 6.000 palavras distribuídas em 17 capítulos.
São hinos fervorosos com os quais o autor busca demonstrar o modo de vida com que se pode destruir o Mal que existe no mundo.

O “Pahlavi” - literatura sagrada zoroastrista, com as descrições das realidades superiores, do destino da alma após a morte, etc.

Pricípios básicos
O zoroastrismo prescreve a fé no Deus único, chamando-o Ahura Mazda ou 'Ormuz Mazda' ou 'Ohrmazd' ou ainda 'Zhura Mazdah' - o "Senhor Sábio", a quem se credita o papel de Criador e Guia Absoluto do Universo.
O símbolo de Ahura é o fogo, que está presente em todas as cerimônias como representação viva do Deus Maior.

Da Divindade suprema emanam seis espíritos, os "Amesas Spenta" (Imortais Sagrados), que auxiliam Ahura Mazda na realização de seus desígnios: Vohu-Mano (Espírito do Bem), Asa-Vahista (Retidão Suprema), Khsathra Varya (Governo Ideal), Spenta Armaiti (Piedade Sagrada), Haurvatat (Perfeição) e Ameretat (Imortalidade).

Com Ahura Mazda, esses entes travam uma guerra permanente contra o princípio do Mal, “Ahriman” (ou ‘Angra Mainyu’), que por sua vez age acompanhado de entidades demoníacas: Mau Pensamento; Mentira, Rebelião, Mau Governo, Doença e Morte.

Dois princípios supremos, portanto, caracterizavam o zoroastrismo: o Bem e o Mal.
Ahura Mazda é o Deus supremo, o Criador de todas as coisas boas, enquanto Ahriman é o princípio destrutivo que rege a ganância, a fúria e as trevas.
O zoroastrismo repousa no postulado básico da grande Contradição Dualista - Bem e Mal - presente em todos os elementos do nosso mundo - mas a bondade irá triunfar e os mortos ressuscitarão.

Há no zoroastrismo uma série de exortações e interdições destinadas a dirigir a conduta dos homens e para reprimir os maus impulsos.
 
Através do combate cotidiano a Ahriman e sua corte (que se manifestam, por exemplo, nos animais de presa, nos ladrões, nas plantas venenosas etc.), o indivíduo torna-se merecedor das recompensas divinas.
 
Porém, todos têm liberdade para decidir-se pelo Mal, se quiserem (livre arbítrio), sabendo que nesse caso serão punidos após a morte.

Para o zoroastrismo, o homem é responsável pelos seus atos e pelas suas escolhas e colherá os seus frutos, cabendo a cada um lutar contra os maus pensamentos e as más ações - trabalho este que nunca está concluído, um esforço diário e constante.
 
Segundo a doutrina, só através deste esforço o homem pode alcançar uma vida feliz.
O zoroastrismo desenvolveu uma avançada visão metafísica, onde os pensamentos geram realidade.
 
Quando o homem nutre bons pensamentos o Universo passa a conspirar a seu favor.
Quando elabora maus pensamentos, isola-se e enfrenta toda sorte de dissabores - uma religião positivista e ética, baseada no conhecimento e na responsabilidade individual.
Seus ensinamentos estabelecem a prática das boas ações, a pureza de pensamentos, palavras e obras, a pureza de coração, a verdade, a caridade, a bondade, a humildade, o respeito, a amizade e a felicidade.

Características básicas do sistema zoroastriano:

Dualismo;

Crença na imortalidade da alma, na vinda de um messias, na ressurreição dos mortos, no juízo final;

Condenação da cobiça, calúnia, usura, ascetismo, jejum;

Divindades não representadas em escultura;

Inexistência de templos;
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O zoroastrismo reduziu sensivelmente a importância de certos rituais indo-arianos, repelindo alguns elementos cerimoniais correntes no Irã, como as bebidas estimulantes e os sacrifícios sangrentos. Foi após a adoção do zoroastrismo pelos aquemênidas (reinado de Dario I – 550 a 486 aC), que redigiu-se o Avesta e organizou-se a religião.
 
Entretanto, sob os sucessores de Dario, o zoroastrismo transformou seu caráter, convertendo-se/integrando-se no mazdeísmo, impregnado de crenças populares mais complexas dos pontos de vista escatológico e ritualístico.
 
Apesar disso, alguns pontos de contato entre o zoroastrismo clássico e o mazdeísmo aquemênida (como a purificação ritual pelo fogo), permanecem sem uma explicação conclusiva.
 
Ainda se discutem, entre os especialistas, numerosas questões relativas à influência que a reforma de Zarathustra por certo exerceu sobre outros movimentos religiosos orientais, inclusive judaísmo, cristianismo e maniqueísmo.

O zoroastrismo, portanto, é também conhecido como mazdeísmo, e sua origem está diretamente ligada ao contexto social da época.


Contexto histórico e social

Em torno de 3.000 aC os precursores dos Proto-Indo-Iranianos (atuais hindus) começaram a migrar para o sul das estepes da Ásia Central separando-se em dois grupos; um que migrou em direção sudoeste e se instalou no noroeste de Índia; o outro, para o sudeste, e estabeleceu-se no planalto Iraniano.
 
Antes da separação, os dois grupos compartilhavam de uma mesma cultura, idioma e religião.

Como acontece com tudo que se refere à religião, para entender as reformas de Zarathustra é preciso compreender antes o seu contexto histórico e social.
 
Para alguns investigadores, mais do que fundador de uma nova religião, Zaratustra foi um reformador das práticas religiosas indo-iranianas.
 
Ele propôs uma grande mudança na mentalidade dominante, indo do panteão politeísta e não dualista para o monoteísmo e o dualismo.
 
Na perspectiva de Zaratustra, os anjos (ahuras) são vistos como seres que escolheram o Bem e os demônios (daivas ou devas) o Mal.

Como visto, a sociedade persa, na época, dividia-se em três classes: a dos chefes e sacerdotes, a dos guerreiros e a dos criadores de gado.
 
Essa estrutura se refletia na religião, e determinadas deidades, como no hinduísmo, estavam associadas a cada uma das classes.
Ao que parece os "ahuras" (deuses senhores), que incluíam Mitra e Varuna, só tinham relação com a primeira classe.
 
Os servos, mercadores, pastores e camponeses eram considerados insignificantes demais para ser mencionados nas crônicas, embora tivessem seus próprios deuses.


Vida pós-morte segundo Zarathustra

Depois da morte a alma paira sobre o cadáver, ou ao seu redor, durante três dias.
Depois disso segue para a “Cinvat” (‘Ponte do Julgamento’) para conhecer o seu destino, que lhe será transmitido pelos três Juízes: Mithra, Sraosha, e Rashnu.
 
A alma das pessoas justas mantêm-se segura em cima da ponte e dali ruma para a Eternidade no Céu (‘Vahishta de Auhu’ ou ‘Nmana de Garo’), a Morada de Deus e dos seus anjos santificados. A alma impura fatalmente cai da ponte e é precipitada ao Inferno (‘Auhu de Duzh’).
 
Tudo isso está nos escritos referentes à visão de Pahlavi, sobre uma visita ao Inferno, onde consta uma descrição realista de seus tormentos.
 
Também consta do Pahlavi a existência do " Estado Intermediário Médio" (‘Hamestagan’), um lugar de purgação onde as almas serão purificadas até poderem entrar no Céu.

Zarathustra e seguidores numa concepção moderna

O ensinamento de Zarathustra é essencialmente otimista, já que segundo ele é mais fácil percorrer o caminho do Bem que o do Mal.
 
Seus seguidores deveriam ser tolerantes para com todas as religiões.
 
No século VII aC, quando "Ciro o grande" fundou o Império Persa, o zoroastrismo se tornou a religião oficial do Estado, passando a ser praticado na Grécia, Egito e norte da Índia.
 
Depois da morte de Zarathustra a religião continuou a ser (ainda mais) difundida.

Acredita-se que possa ter influenciado a religião dos hebreus quando exilados no Egito, com a presença de novos entendimentos sobre temas como: anjos, livre-arbítrio, a bondade essencial contida no mundo e etc.

Os seguidores do zoroastrismo que seguiram para a Índia ficaram conhecidos como "parses" ou "pars" (derivação da palavra indiana 'persas').
 
Para os parses, a limpeza é algo muito importante, é preciso que o adepto se banhe antes de qualquer cerimônia ou culto.
 
Eles usam um manto chamado "kushti", que contêm cordões que representam os capítulos da Yasna.
 
Os devotos usam um "sadre" (uma espécie de camisa que os diferencia das demais religiões da Índia) e os sacerdotes usam túnicas e turbantes brancos.

Com o colapso do império aquemênida, o Zoroastrismo desapareceu como religião organizada, até que voltou a ser religião do Estado no Segundo Império – o sassânida.
 
Entretanto, quando este foi destruído, o zoroastrismo igualmente foi derrotado pelas forças de uma outra nova religião; o islamismo.

A partir do momento em que deixou de ser religião oficial, o zoroastrismo entrou numa decadência rápida e irreversível.
 
Em todas as fases, porém, manteve uma característica básica: uma religião de livre-arbítrio na qual o homem é julgado de acordo com a natureza dos seus pensamentos, palavras e atos; com a recompensa pós-morte - para os bons o Paraíso, a "Melhor Existência", e para os maus o Inferno, a "Existência Infernal", também denominada como “Morada da Mentira”.
 
Na primeira, facilidades e benefícios. Na outra, desconforto e tormentos, escuridão e gritos de dor.

De papel fundamental nos conceitos religiosos apresentados por Zarathustra foram os "Amesha Spentas" ('Imortais Sagrados'), que podem ser descritos como emanações ou aspectos de Ahura Mazda.
 
Nos Gathas, os Amesha Spentas são apresentados de uma forma bastante abstrata; séculos depois eles seriam transformados e elevados ao estatuto de divindades.
 
Cada Amesha Spenta foi associado a um aspecto da criação divina.
Os Amesha Spentas:
"Vohu Manah" ('Bom Pensamento'): os animais;
"Asha Vahishta" ('Verdade Perfeita'): o fogo;
"Spenta Ameraiti" - ('Devoção Benfeitora'): a terra;
"Khashathra Vairya" - ('Governo Desejável'): o céu e os metais;
"Hauravatat" ('Plenitude'): a água;
"Ameretat" ('Imortalidade'): as plantas.


Curiosidades

# No português e também em outras línguas o nome do profeta têm recebido diversas grafias.
Assim, encontramos nos diversos compêndios formas diversas: “Zaratrusta, Zarathrustra, Zaratustra, Zarathrusta, Zarathushtra”...

# Uma hipótese diz que os Reis Magos eram sacerdotes zoroastristas.

# No zoroastrismo oram-se cinco vezes ao dia.
A linguagem usada é o persa antigo e os templos são fechados, não sendo permitido o acesso a pessoas de outras religiões.

# A maneira como lidam com os mortos é bastante peculiar.
Os parses colocam os corpos nas chamadas "Torres do Silêncio", ou "Dakhmas", onde são comidos por aves e animais selvagens.
Esta seria a missão do abutre, de acordo com a tradição parse.

# A historia do Zoroastrismo começou a enfraquecer no século VII dC.

# A religião foi banida da Pérsia pelos muçulmanos no século IX.

# A perseguição aumentou sob a dinastia Qajar (1796-1925).
Mas quando o Xá Reza Pahlevi destronou o último Qajar em 1925, houve uma trégua na perseguição, já que eles eram tidos como nobres da antigo Irã.

# Atualmente podemos ver a continuação do Zoroastrismo através dos parses da Índia que preservam alguns dos antigos rituais.

# Segundo Zaratustra, os ahuras são seres que escolheram o Bem e os daivas (ou devas) o Mal. - No hinduísmo ocorre o inverso, com os ahuras representando o Mal e os daivas o Bem.

# Segundo o pesquisador James Moulton, Zarathrusta não pertencia à classe sacerdotal.
O sacerdócio no Irã daquela época provavelmente também existia como classe social, um cargo transferível por herança.


Zoroastrismo hoje
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Substituído pelo islamismo, o zoroastrismo reduziu-se basicamente a pequenos grupos no Irã e na Índia.
 
Portanto, a comunidade zoroastriana existente no mundo contemporâneo pode ser dividida em dois grandes grupos: os parses e os zoroastrianos iranianos.
 
Mas além destes existem também ocidentais convertidos à religião.
Segundo estimativas do ano de 2004, o número de zoroastrianos era de 124 mil pessoas.

Na Índia os Parses são reconhecidos pelas suas contribuições à sociedade no domínio econômico, educativo e caritativo.
 
Muitos vivem em Mumbai (Bombaim) e têm tendência para praticar a endogamia (sistema social no qual os casamentos ocorrem entre membros de um mesmo grupo), desencorajando as mudanças de religião.
 
Vêem a sua fé como étnica.

Em geral os zoroastrianos iranianos mostram-se mais abertos a aceitar conversões.
 
Concentram-se nas cidades de Teeran, Yazd e Kerman.
Falam uma variante da língua persa, o dari (diferente do dari falado no Afeganistão).
 
Receberam o nome de "gabars", termo que era usado inicialmente com conotações pejorativas (‘infiel’), mas que com o tempo perdeu muito da sua carga negativa.

Diásporas zoroastrianas podem ser encontradas em países como Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Austrália e países do Golfo Pérsico.

Atualmente os zoroastrianos dividem-se entre o dualismo ético e o dualismo cosmológico, existindo também os que aceitam os dois conceitos.
 
Os que acreditam literalmente que Ahura Mazda tem um inimigo chamado Ahriman (ou Angra Mainyu), responsável pela doença, pelos desastres naturais, pela morte e por tudo quanto é negativo, não o vêem como um deus.
 
Ele é antes uma energia negativa que se opõe à energia positiva de Ahura Mazda, tentando destruir tudo o que de bom foi feito por ele (a energia positiva de Deus é chamada de 'Spenta Mainyu').
No final, Ahriman será destruído e o bem triunfará.
 
Outros zoroastrianos entendem o dualismo como ocorrendo no plano interno de cada pessoa, a escolha que cada um deve fazer entre o Bem e o Mal.

Sacerdócio - Existem três graus de sacerdócio no zoroastrismo contemporâneo, que tende a ser hereditário, embora não seja obrigatório que o filho de um sacerdote venha a seguir a profissão do pai.
Os sacerdotes de grau inferior recebem o nome de “ervad”.
Para aceder a este grau inicial é preciso conhecer de cor as escrituras do zoroastrismo, bem como a lei.
O ervad desempenha apenas uma função de assistente nas cerimônias mais importantes da religião.
Acima deste encontra-se o “mobed”, e por sua vez, acima deste o “dastur”; responsável pela administração de um ou vários templos (o cargo de dastur pode ser comparado ao do bispo cristão).

Locais de culto - Os templos religiosos do zoroastrismo, onde se desenrolam as cerimónias e são celebrados os festivais da religião, são conhecidos como "Templos de Fogo".
Estes edifícios possuem duas partes principais.
A mais importante é a câmara onde se conserva o fogo sagrado, que arde numa pira colocada sobre uma plataforma de pedra.
Os sacerdotes zoroastrianos visitam o fogo cinco vezes por dia e procuram mantê-lo acesso, fazendo oferendas de sândalo purificado.
Recitam também orações perante o fogo com a boca tapada por um tecido, de modo a não contaminarem o fogo.  
Este respeito pelo fogo sagrado levou a que os zoroastrianos fossem chamados de "adoradores de fogo" - o que constitui um erro, já que o fogo não é adorado em si, mas como um símbolo da sabedoria e da luz de Ahura Mazda.
Os templos de fogo mais importantes do Irã e da Índia mantêm uma chama de fogo sagrado a arder perpetuamente.

Rituais - O zoroastrismo não determina que os membros devam realizar um número obrigatório de orações por dia.
Os zoroastrianos podem decidir quando e onde desejam orar.
A maioria dos zoroastrianos reza várias vezes por dia, invocando a grandeza de Ahura Mazda.
As orações são feitas perante uma chama de fogo.

O “Navjote” (ou ‘Sedreh-Pushi’ para os zoroastrianos do Irã) é uma cerimônia de iniciação obrigatória, destinada às crianças, que deve acontecer entre os sete e os quinze anos de idade.
Antes da cerimônia começar a criança toma uma banho ritual de purificação (‘Naahn’).
Depois é conduzida pelo mobed, na presença familiares e amigos, a receber o “sudreh” (ou ‘sedra’, uma veste branca de algodão) e o “kusti” (um cordão feito de lã) que ata na sua cintura.
A partir deste momento o zoroastriano deve usar sempre o sudreh e o kusti.

O casamento zoroastriano implica dois momentos distintos.
No primeiro os noivos e os seus padrinhos assinam o contrato de casamento.
Segue-se a cerimônia propriamente dita, durante a qual as mulheres da família colocam sobre a cabeça dos noivos um lenço, e simultaneamente dois cones de açúcar são esfregados um contra o outro.
O lenço é então cozido, simbolizando a união do casal.
As festas do casamento podem prolongar-se entre três e sete dias.

Práticas funerárias - Os zoroastrianos acreditam que o corpo humano é puro e não algo que deve ser rejeitado.
Mas quando uma pessoa morre e o seu espírito deixa o corpo, num prazo de três dias o seu cadáver torna-se impuro.
E uma vez que a natureza é uma criação divina marcada pela pureza, não se deve poluí-la com um cadáver.
Assim, os cadáveres dos zoroastrianos, tradicionalmente não são enterrados, mas colocados ao ar livre para serem devorados por aves de rapina, em estruturas conhecidas como Torres do silêncio (‘dokhma’).

Após a morte, um cão é trazido perante o cadáver, num ritual que se repete cinco vezes por dia.
No aposento onde se encontra o cadáver arde uma pira de fogo ou velas, durante três dias.
Durante esse tempo os parentes e amigos vivos evitam o consumo de carne.
Os participantes no funeral vestem-se todos de branco, procurando-se evitar o contacto direto com o defunto.
O cadáver (sem roupa) é então depositado numa torre do silêncio.
Depois das aves terem consumido a carne, os ossos são deixados ao sol durante algum tempo para secarem.
Por motivos vários (a diminuição da população de aves de rapina e a ilegalidade dessa tradição em alguns países) esta prática tem sido abandonada.
Zoroastrianos residentes em países ocidentais, e até mesmo no Iran e na Índia, optam pela cremação.

Festas - As comunidades zoroastrianas atuais segem três calendários diferentes: o “Fasli” (usado pelos iranianos e alguns parses), o “Shahanshahi” (usado pela maioria dos parses) e o “Qadimi” (o menos utilizado), o que significa que as festas religiosas podem ser celebradas em diferentes dias.
Nesses calendários, os meses e dias do mês recebem o nome de um Amesha Spenta.

Os zoroastrianos celebram seis festivais ao longo do ano - os chamados “Gahanbars” - cujas origens se encontram nas diferentes atividades agrícolas dos antigos povos do planalto iraniano e nas estações do ano.

“Noruz” é o Ano Novo Persa, celebrado no dia 21 de Março no calendário Fasli (os Parses celebram o Noruz em meados de Agosto).
Neste dia os zoroastrianos colocam nas suas casas uma mesa com sete itens: um vaso com rebentos de lentilhas ou de trigo, um pudim, vinagre, maças, alho, pó de sumagre, frutos da árvore jujube.
Outros elementos que enfeitam a mesa são moedas, o Avesta, um espelho, flores e uma imagem de Zaratustra.
O Noruz é celebrado com o uso de roupas novas, com o consumo de pratos especiais, com a troca de presentes e a celebração de cerimônias religiosas.
O fogo tem nesse dia um significado especial.
Seis dias depois do Noruz os zoroastrianos festejam o nascimento de Zaratustra.


Nos Gathas, Zarathustra fala do "Grande Senhor":

"Deus é UM. Sagrado; Bom; Criador de todas as coisas, tanto materiais como espirituais, através de Seu Santo Espírito; Ele é a Vida e O que dá a vida.
Ele é Bom porque é Produtivo e faz com que tudo se desenvolva.
Sua 'Unicidade', entretanto, é uma unidade na diversidade, uma vez que Ele se manifesta sob vários Aspectos: o Espírito Santo, através de Quem Deus cria; o Bom Pensamento, através do qual inspira o profeta e santifica o homem; a Verdade, a Retidão ou Ordem Cósmica ('Asha'), pela qual mostra aos homens como se ajustarem ao Cosmos pela honradez; a Soberania, através da qual regula a Criação; Totalidade, que é a plenitude de Seu Ser; a Moralidade, pela qual derrota a Morte."Fontes e bibliografia:
Bausani, Alessandro - "Lo Zoroastrismo" in Le Grandi Religioni, dir. Angelo Solmi, Volume VI. Milão: Rizzoli Editore, 1964.
M. Boyce, (1987): Os Sacerdotes e Homens, Boletim de Estudos Orientais e Africanos, Vol. 50.
Arquivo Barsa Planeta
J. Duchesne-Guillemin, (1973): Religião de Irã Antigo, Bombay,
Profº J. Laércio do Egito - F.R.C.
S. K. Hodiwala, (1924): Religião Indo-iraniana, Diário do K. R. Cama Ori-ental Instituto, Vol. 10
H. Humbach e PÁG. Ichaporia, (1994): A Herança de Zarathushtra, Heidelberg.

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