sexta-feira, 12 de novembro de 2010

"A Humildade do Mestre"



Uma vez existiu na China um homem que, sendo possuidor de uma imensa bondade, levava uma vida pura e em harmonia com todos os seres da natureza.

Até que um dia, Deus enviou um anjo para falar com ele, e lhe disse:

- Deus quer compensá-lo por suas boas ações.

- Não é necessário - respondeu o homem.

- E se você tivesse o Dom de curar? - perguntou o anjo.

- De maneira alguma! - disse ele - Eu não saberia como distinguir quem merecesse ou não ser curado.

- E se possuí-se o Dom da palavra que transforma? - insistiu o anjo - Você poderia atrair as pessoas para o caminho da Verdade.

- Não quero ser venerado por ninguém.
Gostaria de continuar sendo uma pessoa simples - foi a resposta.

- Preocupado, o anjo disse:

- Não posso voltar para de onde vim sem antes ter lhe concedido uma graça, um milagre ou um Dom.
Se você não escolher, será obrigado a aceitar qualquer um.

O homem pensou por um momento, e disse:

- A partir de hoje, gostaria que o Bem que eu possa fazer ninguém perceba que fui eu - e acrescentou - Nem mesmo eu devo saber; alimentaria a minha vaidade.

Satisfeito, o anjo fez um gesto e a sombra do homem passou a ter o poder de abençoar e de curar.
Mas isto só aconteceria quando seu rosto estivesse na direção do sol.
Desta forma, por onde ele fosse, os doentes seriam aliviados, a terra seca se tornaria fértil e as pessoas tristes voltariam a sorrir.

Este homem caminhou muitos anos pela Terra sem jamais saber dos milagres que realizava, pois quando o sol batia em seu rosto sua sombra sempre estava detrás dele.

Assim, ele viveu e morreu sem nunca ter consciência da sua própria Santidade.

* * * * *

O nome deste personagem era Lao Tsé.
Viveu na China no século V a.C. num período em que o país enfrentava muitas guerras e problemas políticos.

Morou sempre sozinho, mas sempre recebia a todos com amor.
Não teve seguidores, nem nunca os permitiu.
Defendia a liberdade de crença e não acreditava em diferenças sociais.
Não gostava de honrarias.
Sempre que possível, evitava ter de ir ao Palácio Real quando o príncipe o chamava.

Dotado de uma sensibilidade extraordinária, gostava de receber o amanhecer caminhando pelo bosque, respirando e meditando com a brisa matinal.
Contam que nessas caminhadas houve um soldado que o seguia de longe.
Seu nome era Lin Hsi, e admirava Lao Tsé pela paz que fluía da sua pessoa.

Ao alcançar uma idade avançada e pressentindo que a China seria invadida pelos mongóis, Lao Tsé decidiu deixar o Império saindo pelo portão Oeste, rumo à Ásia central.
Foi quando o soldado Lin Hsi o tomou como prisioneiro.

- Amigo, sou muito velho para participar da guerra. - disse Lao Tsé.

- Não queira me enganar! - disse o soldado - Sei quem você é!
Durante anos segui-o pelo bosque nas suas caminhadas ao amanhecer.
Os milagres aconteciam sob sua sombra por onde você passava.
Portanto, você deve ser um santo, um mestre ou um sábio.

- Agora o reconheço, - disse Lao Tsé - algumas vezes senti sua presença, ao longe, no bosque.

O soldado o levou até sua casa, e disse:

- Registre para mim um pouco da sua sabedoria.
Não quero que a História deixe de saber quem foi Lao Tsé.
Escreva um livro antes de partir.
Enquanto isso será meu prisioneiro.

É claro que ficaram amigos e Lao Tsé se tornou seu hóspede. Após um pernoite, escreveu 5000 palavras que chamou de "TAO TÉ CHING" ou "Livro do Caminho Perfeito". A sua linguagem misteriosa e condensada, não admite leitura superficial, pois só vai sendo revelada aos poucos conforme o leitor abre seu coração à Verdade.

A partir do livro surgiu o "Taoísmo", filosofia que inspirou Confúcio, serviu de base do Budismo Ch’an ou Zen, e cuja influência é indiscutível no pensamento da China.

Talvez a maior virtude de Lao Tsé fosse a humildade. Ele dizia:

- SABEIS PORQUE O MAR E OS RIOS SÃO SUPERIORES AOS RIACHOS DAS MONTANHAS? POIS, PORQUE SABEM MANTER-SE SEMPRE ABAIXO DELES.

Conhecedor profundo do ser humano, sabia que todos vivemos em dois mundos paralelos: o mundo exterior e o mundo interior ou sutil.
Às vezes, o passado se torna mais importante que o presente. Às vezes, o sonho é mais real que a realidade.

Nos escritos de Chuang Tsú, mestre taoísta do século III a.C., narra-se um sonho que teve Lao Tsé, descrito com seus próprios versos:

"SONHEI QUE ERA BORBOLETA.

E FOI UM SONHO TÃO REAL

QUE AO ACORDAR,

EU NÃO SABIA MAIS

SE ERA UM HOMEM

QUE SONHOU QUE ERA BORBOLETA

OU UMA BORBOLETA

SONHANDO QUE ERA HOMEM".

http://peshp.vilabol.uol.com.br

Um comentário :

hector disse...

ola alguem sabe o siginificado do simbolo de dois ossos cruzados sem a caveira? tenho procurado e não encontrado. parabens pelo blog