domingo, 25 de setembro de 2011

Qual é a maior dor que se pode imaginar?



Sem dúvida, perder um filho.

Infelizmente, muita gente à face deste planeta em cada geração sentiu a amargura profunda dessa experiência.

Fico pensando por que a vida terá imprimido essa marca tão avassaladora no nosso universo interior.

Por que será essa a maior das dores?

Um crente num funcionamento mecanicista da existência poderá dizer que a natureza nos fez dessa maneira para assegurarmos a continuidade da espécie, já que a dimensão desse desgosto demonstra bem como a grande maioria dos pais seriam capazes de tudo para que seus filhos não morressem antes deles.

Sem dúvida, não há como negar que esse é um dispositivo natural perfeito para garantir que a espécie cresça e se multiplique.

Mas não consigo deixar de pensar que as razões ocultas são bem mais profundas do que a utilidade pragmática desse dispositivo da natureza.

O que me ocorre é um fenômeno de dimensão existencial cósmica.

O que isso me suscita é que essa experiência que destroça os corações e entranhas de quem
a sofre, essa vivência que parece deixar um vazio abismal na alma, enquanto desmorona o dique que sustém o rio aparentemente inesgotável das mais amargas lágrimas, é uma experiência que me parece sugerir algo de dimensões cósmicas.

É como o impulso sexual que vem a se transformar em amor sublime, razão de vida.
Começa na raiz da carne, e ascende aos mais sublimes sentimentos, porque o dispositivo foi criado pelo Amor mesmo.

Da mesma maneira, tudo fazer para preservar um filho da morte, começa pela raiz dos mais primários e inconscientes instintos de preservação da espécie, para se elevar à altura do mais sublime espírito de fidelidade à criatura que surgiu do nosso seio, já que esse dispositivo foi criado pelo próprio Pai.

Perder um filho é beber da taça do mais amargo fel.

Não surpreende, então, que Jesus fosse fiel ao ponto de beber da taça do sacrifício da sua própria vida física, debaixo dos mais ignóbeis e aviltantes abusos.

Afinal, ele estava no meio de um processo em que queria providenciar ferramentas de sobrevivência (no sentido da supervivência) dos seus filhos de todo um Universo Local que ele mesmo criou.

Foi para que seus filhos encontrassem a Vida que ele permitiu ser trucidado com tamanha ignomínia.

E ao assim fazer, ele estava fazendo o que o Pai estava, por sua vez, fazendo em Jesus mesmo. Era Jesus e Deus, ambos, se doando.

Tudo pelos seus filhos... para lhes indicar o rumo que os salvaguardaria de uma queda
existencial.

“[...] E assim novamente vos digo, há sempre júbilo na presença dos anjos do céu, por causa de um pecador que se arrepende e retorna ao abraço do Pai.
E vos conto essa história para incutir em vós a ideia de que o Pai e o Filho saem em busca daqueles que estão perdidos.” [...] [O Livro de Urântia, 169:1.4]

Por paradoxal que pareça, eu acho, sim, que Deus sofre pelo filho que se transvia e se perde. Esse é o similar cósmico de quando alguém de nós, humanos, perde seu filho temporariamente para a morte física.

Nós temos a garantia de que, regra geral, chegará o momento em que voltaremos a ver nossos filhos que partiram antes, e poderemos depois matar nossas saudades.

Mas Deus está perante a iminência da morte final de algum de seus filhos, ou pelo menos de longos caminhos de sofrimento que podem ser encurtados pelos frutos do trabalho daqueles que servem as criaturas imaturas em Seu nome.

“[...]Não vês que Jó aspirava por um Deus humano, que tinha fome de comungar com um Ser divino que conhece o estado mortal do homem e entende que o justo deve sempre sofrer na inocência, como uma parte dessa primeira vida da longa ascensão ao Paraíso?

E a razão que fez o Filho do Homem vir do Pai, para viver esta vida na carne, é para que ele se torne capaz de confortar e de socorrer a todos aqueles que devem, doravante, ser chamados para suportar as aflições de Jó.
[O Livro de Urântia, 148:6.7]

Agora, todavia, deveis dar ouvidos às minhas palavras, para que não cometais novamente o erro de escutar os meus ensinamentos com a mente, enquanto, dentro de vossos corações, deixais de compreender os significados.

Desde o começo da minha passagem, como um de vós, vos transmiti que o meu único propósito era revelar o Pai do céu para os filhos Dele, na Terra.

Eu vivi a auto-outorga da revelação de Deus, para que vós pudésseis experienciar a carreira de conhecimento de Deus.

Revelei Deus como vosso Pai no céu, e revelei a vós como filhos de Deus na Terra.

É um fato que Deus ama os Seus filhos.

Pela fé, na minha palavra, esse fato torna-se uma verdade eterna e viva nos vossos corações.

Quando, pela fé viva, vos tornais divinamente conscientes de Deus, nasceis do espírito tal como filhos da luz e da vida, e da mesma vida eterna, por meio da qual ascendereis, no universo dos universos, e atingireis a experiência de encontrar Deus, o Pai, no Paraíso.
[O Livro de Urântia, 193:0.3]

“O Pai é amor vivo, e a vida do Pai está nos seus filhos.
E o espírito do Pai está nos filhos dos seus filhos os homens mortais.
Quando tudo estiver dito e feito, a ideia de um Pai será ainda o conceito humano mais elevado de
Deus.
O Livro de Urântia, 196:3.35


Gostaria de terminar com estas admiráveis palavras de um dos reveladores da Quinta Revelação de Época, um Conselheiro Divino:

Será que o Pai do Paraíso sofre?
Eu não sei.

Os Filhos Criadores podem e certamente sofrem, algumas vezes, da mesma forma que os mortais.

O Filho Eterno e o Espírito Infinito sofrem, em um sentido modificado.

Penso que o Pai Universal possa sofrer, mas não posso entender como; talvez por meio do
circuito da personalidade, ou através da individualidade dos Ajustadores do Pensamento e das outras outorgas da Sua natureza eterna.

Ele disse às raças mortais: “Com todas as vossas aflições, aflijo-Me”.

Sem dúvida Ele experimenta um sentimento de paternidade e simpatia compreensiva; Ele pode
sofrer verdadeiramente, mas não compreendo a natureza desse sofrer.”
[O Livro de Urântia, 3:6.6]

(Dedico esta mensagem aos meus pais, que viram um de seus amados filhos morrer fisicamente).



Carlos Leite da Silva

Um comentário :

margaridarq disse...

Eu na alma, ou mehlor também bebi dessa taça que contem o mais amargo do fel.Também me senti desesperada e com um vazio na alma ou melhor, um buraco no coração. Há um tempo li em alguma mensagem nos Mestres Ascsnsos que me amparou muito. Dizia assim: Porque um acontecimento que pode ser julgado como extremamente traumatizante no momento, em que você o vê em sua vida, é necessàriamente portador de uma quantidade de LUZ que está bem aém do que você pode esperar no momento em que você o vê. Obrigada!