segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Astrologia

Horóscopo. Signos. Zodíaco.

Como a posição de Saturno pode influenciar o seu desempenho no trabalho?
O que a Lua diz sobre o seu futuro amoroso?
Seria auspicioso mudar a rotina, ou Júpiter indica que é melhor não arriscar?
Tentar predizer o futuro através dos astros é coisa antiga.
Há milhares de anos Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno são base fundamental de uma arte divinatória que supõe a influência dos astros sobre a vida e o destino dos humanos: a Astrologia.

Os astrólogos pretendem que a posição dos corpos celestes em determinados momentos é um fator condicionante do futuro, sendo a vida previsível pelo céu. A disposição dos astros no momento do nascimento determinará todo o curso da vida de uma pessoa, por seu signo de horóscopo.
Seria isto verificável cientificamente?
Pode o céu predizer nosso futuro, ou estamos apenas nos enganando com tolices genéricas?





História

A Astrologia é uma das mais antigas formas de futurologia.
A observação das estrelas já se dava na Suméria, em Akkad e na Babilônia.
Muito provavelmente, surgiu na Mesopotâmia, por volta do III milênio AEC.
Diferente do que comumente se pensa, a Astronomia é mais antiga, sendo que ambas chegaram a ser confundidas a tal ponto que a Astrologia acabou por ser chamada de “arte caldaica”.
A Astronomia se firmou como ciência teórica, e a Astrologia como arte buscadora de consequências práticas – os acontecimentos meteorológicos, mais especificamente.
Surgiu então a ideia de que os astros não só enunciavam acontecimentos, mas estavam também por trás de suas causas.
A Astronomia na Mesopotâmia fora de destaque considerável.

Os eclipses já eram previstos em 747 AEC, enquanto o curso do Sol, as fases da Lua e a periodicidade dos planetas foram estabelecidos por volta de 1000 AEC.
A observação da esfera celeste foi se sistematizando e se cientifizando, chegando a se sustentar em processos matemáticos, o que fez com seus primeiros estudiosos fossem chamados matemáticos.

A identificação dos planetas com deuses, na Babilônia, por outro lado, divinizou-a, e a presunção de que presidiam os nascimentos levou a crer que também influenciavam nos cursos das vidas, surgindo então a astrologia judiciária, baseada na crença de que os astros pronunciam julgamentos.
Os cinco planetas então conhecidos se juntaram a Sol e Lua, formando o número místico sete.
Júpiter correspondia a Marduk, Vênus à Ishtar, Saturno a Ninurta, Mercúrio a Nebo, Marte à Nergal, a Lua à Sin e o Sol a Shamash.

Esses deuses planetas eram os intérpretes das vontades dessa assembleia divina, que apenas se manifestava genericamente, visto que os deuses não se preocupam com as minúcias.
No princípio de sua prática, a Astrologia era reservada à classe sacerdotal, vindo a ser chamada “arte real”, já que os reis eram sacerdotes.
Sua maior preocupação era o futuro do rei e do Estado.
A fama dos astrólogos caldeus era grande no mundo antigo, tendo crescido com a predição de que Alexandre Magno morreria se entrasse na Babilônia.
Com a queda da Babilônia a Mesopotâmia decaiu, e os astrólogos expatriaram-se, fazendo a Astrologia se espalhar e florescer.

No Egito se atribuía a invenção da Astrologia ao deus Thoth.
Os egípcios difundiram o zodíaco, que é a divisão da elíptica em 12 casas de 30° de longitude cada uma – herança caldaica que passou à Grécia, junto com o calendário de 12 meses e 5 dias adicionais –, além de crença de que cada hora tinha uma estrela como regente do corpo humano, e da escolha de 36 estrelas cuja ascensão se processava em intervalos de 10 dias um da outra (decanas).
Na Grécia, embora a Astrologia já fosse conhecida pelos filósofos desde o século V AEC, a grande astrologia surgiu no período helenístico, e foi intentada a identificação dos astros com personagens mitológicos.

Vulgarizou-se e tornou-se ocupação de muitos astrônomos.
Platão a considerava disciplina séria, e Hipócrates de Cós discutia seu valor curativo.
Alexandria tornou-se lar e ninho de muitos astrólogos, o primeiro deles tendo sido Necepso de Netosine.
O círculo do zodíaco fora lá aprimorado e a precessão dos equinócios, descoberta por Hiparco de Niceia, fora adicionada.

A Astrologia deixou de se preocupar com o Estado e passou a focar-se nas vidas dos comuns, a partir do século II EC.
Ptolomeu deu-lhe fundamentos duradouros através de seus desenvolvimentos matemáticos e astronômicos.
Em Roma os escravos leitores dos astros foram indiscriminadamente chamados “caldeus”.

Em 139 AEC foram expulsos por Cnido Cornélio Híspalo, regressando com o início da república.
Amparados pelo imperador e pelas mulheres, acabaram tendo aceitação social e prosperando até a decadência de Roma.
Alexandre Severo criou cátedras de Astrologia e sua influência chegou ao auge depois da morte de Marco Aurélio.

Com o início da Idade Média já traziam decadência.
Três bulas papais e as anátemas do Concílio de Laodiceia (366), do Concílio de Toledo (400) e do Concílio de Braga (561) condenaram tal prática.
Foi julgada supersticiosa e herética, visto que a crença na determinação do destino pelos astros ia de encontro com o livre-arbítrio.
Tomás de Aquino aceitava a ideia de que o caráter pudesse sofrer influência astral, desde que não fosse determinante.
Com os árabes, depositários e propagadores da ciência antiga, a Astrologia fora divulgada por toda a Europa, iniciando este processo na Espanha.

Por volta do século XIV, com a decadência do poder imperial e papal e o início da Renascença na baixa Idade Média, chegou a um novo apogeu, tornando-se disciplina universitária no mundo cristão.
Foi prestigiada como nunca antes entre os séculos XV e XVI, e os astrólogos foram conselheiros dos governantes e da nobreza até o século XVII, depois da derrocada do geocentrismo.
As artes visuais tomaram temática astrológica e Veneza tornou-se centro dos astrólogos até a Idade Moderna, quando a Astrologia decaiu drasticamente.
Sistema

A aplicação mais corrente da Astrologia é o horóscopo, que aceita o princípio da ação das estrelas e planetas sobre a vida humana a partir do nascimento.
A hora do nascimento é decisiva, sendo necessário para determinar a influência astral um “levantamento do céu”.
O céu é então dividido em 12 casas:
  • Aries (21 de março a 19 de abril);
  • Taurus (20 de abril a 20 de maio);
  • Gemini (21 de maio a 21 de junho);
  • Câncer (22 de junho a 22 de julho);
  • Leo (23 de julho a 22 de agosto);
  • Virgo (23 de agosto a 22 de setembro);
  • Libra (23 de setembro a 23 de outubro);
  • Scorpio (24 de outubro a 21 de novembro);
  • Sagittarius (22 de novembro a 21 de dezembro);
  • Capricornius (22 de dezembro a 19 de janeiro);
  • Aquarius (20 de janeiro a 18 de fevereiro);
  • Pisces (19 de fevereiro a 20 de março).
As figuras astrológicas são de várias espécies, sendo a mais estimada o quadrado astrológico, composto de três quadrados circunscritos, o segundo no primeiro e o terceiro no segundo.
Formam-se oito triângulos, sendo os quatro triângulos externos, dos vértices do quadrado maior, divididos pelo meio.
Os 12 triângulos que surgem representam as 12 casas celestes, que correspondem aos 12 signos zodiacais, enumeradas no sentido anti-horário.

A primeira é a casa central do lado esquerdo do quadrado, sendo nela inscrita a constelação que sobe no horizonte (ascendente) no início da observação.
Os símbolos das outras constelações são distribuídos nas casas restantes, da esquerda para a direita.
Em seguida o astrólogo distribui pelas 12 casas os planetas segundo sua posição no céu no momento da observação, ficando na casa 1 o planeta ascendente no momento da observação.
  • Casa 1, da vida (Aries – ângulo oriental): vida longa;
  • Casa 2, das riquezas (Taurus – porta inferior): dinheiro e boa sorte;
  • Casa 3, dos irmãos (Geminis): heranças e surpresas desagradáveis;
  • Casa 4, do parentesco (Cancer – fundo do céu ou ângulo da terra): tesouros ocultos;
  • Casa 5, dos filhos (Leo): donativos;
  • Casa 6, da saúde (Virgo – amor de Maria): tristezas e doenças;
  • Casa 7, do matrimônio (Libra – ângulo ocidental): casamentos;
  • Casa 8, da morte (Scorpio): terror e morte;
  • Casa 9, da religião (Sagittarius – amor do sol): piedade, religião, viagens e filosofia;
  • Casa 10, das divindades (Capricornius – metade do céu): empregos e coroas;
  • Casa 11, da amizade (Aquarius): prosperidade;
  • Casa 12, inimizade (Pisces – amor de Saturno): atentados, mortes repentinas e desgostos.
Cada casa tem poder diferente e elas não obedecem a qualquer ordem crescente ou decrescente, cada uma tendo astro próprio de influência majoritária.
Quando dois planetas tem a mesma força, prevalece o que está situado na casa de maior poder.
A influência dos planetas depende da casa em que se encontrem, da sua própria natureza e dos seus aspectos.
O aspecto é o ângulo formado pelos raios que partem dos planetas e se encontram na Terra.
Observados simultaneamente, os dois astros podem apresentar os aspectos: conjunção (0°), sextil (60°), quadrante (90°), trígono (120°) e oposição (180°). O quadrante e a oposição são maléficos; o trígono e o sextil, benignos; a conjunção, indiferente.

Os elementos ou triplicidades astrológicas abrangem cada qual três signos zodiacais: o fogo está relacionado com Aries, Leo e Sagittarius; a terra com Taurus, Virgo e Capricornius; a água com Cancer, Scorpio e Pisces; e o ar com Gemini, Libra e Aquarius. Fogo e Ar são positivas e masculinas, enquanto Água e Terra são negativas e femininas.

As quadriplicidades ou qualidades são: cardinal ou empreendedor (Aries, Cancer, Libra e Capricornius), fixo ou determinado (Tauros, Leo, Scorpio e Aquarius) e mutável ou adaptável (Gemini, Virgo, Sagittarius e Pisces).

Cada dia da semana recebe influência do astro que lhe deu nome: Sol (domingo), Lua (segunda), Marte (terça), Mercúrio (quarta), Júpiter (quinta), Vênus (sexta) e Saturno (sábado). As 24 horas tem por regentes os planetas em sua ordem celeste decrescente: Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua.

O “grande ano” dura 25.868 anos solares e corresponde ao período de tempo que o eixo polar da Terra leva para passar em torno de um círculo hipotético em relação às estrelas e retornar a sua posição original.
Essa oscilação do eixo é denominada “nutação” pelos astrônomos.
Na Astrologia o grande ano se divide em 12 grandes meses, cada um deles com pouco mais de 2.000 anos.

O eixo polar vai se movendo em torno de seu círculo e a Terra vai passando de uma constelação à outra.
Os 2.000 primeiros anos da era cristã correspondem à era do grande mês de Pisces. Estamos agora em Aquarius.

Funciona?
Desde as descobertas de Galileu e seus sucessores os cálculos astrológicos têm sido lançados em grande confusão, visto que se pensava que o Sol, a Lua e os planetas giravam em torno da Terra, cada signo correspondendo a uma determinada organização da faixa celeste, conforme a constelação em pauta.
Já havia mais que sete planetas, ao passo que o Sol e a Lua já não faziam mais parte do rol planetário.
  • Com a aceitação do sistema heliocêntrico de Copérnico, a doutrina da influência astral morreu;
  • A Astrologia ignora totalmente o movimento de precessão da Terra: desde Hiparco o equinócio retrocedeu 30°, de maneira que os signos avançam uma ordem em relação à passagem do Sol (sob o signo de Taurus o Sol atravessa Aries, sob o signo de Aries o Sol atravessa Pisces etc.). Somente em 25.760 anos será reestabelecida a antiga coincidência;
  • A constelação de Serpentário é totalmente desconsiderada;
  • A teoria astrológica de que os astros de grandes massas exercem influência sobre o campo magnético terrestre e que este, por sua vez, influencia as vidas dos indivíduos é totalmente falha, dado que qualquer imã exerce influência maior sobre nós que o campo magnético da Terra;
  • O puxão gravitacional exercido por um planeta como Júpiter ou Saturno é equivalente ao exercido por uma enorme gama de corpos quaisquer que estejam próximos do indivíduo quando do seu nascimento, como um carro ou uma parede;
  • Os astrólogos não conseguem definir o que consideram o momento do nascimento em partos de várias horas.
Nenhuma das grandes descobertas primeiras da Astronomia é devida à Astrologia.
Muitos astrônomos persistiram vivendo da venda de horóscopos, embora já não acreditassem na Astrologia.

A Astrologia, junto com uma enorme gama de pseudociências, se baseia no sugestionamento, sendo a crença nela dependente da vontade do indivíduo de que as informações que ela fornece sejam verídicas, não de que, de fato, sejam.
As informações que fornece e nas quais se baseia não se sustentam em nenhuma evidência, e advém de pura especulação supersticiosa.

Os únicos astros que, de fato, exercem influência sobre os seres humanos são o Sol e a Lua, e tal influência nada tem de mística.

Predições futurológicas e adivinhações de toda sorte feitas pela Astrologia só podem ser acreditadas por fé, não encontrando nenhuma evidência científica que as suporte.
A crença na Astrologia, e mais precisamente no horóscopo, pode ser explicada, na maioria dos casos, com o Efeito Forer.

Também chamado “efeito da validação subjetiva”, o Efeito Forer é a observação de que a maioria das pessoas aceita como válida qualquer informação sobre suas personalidades, ainda que seja genérica e superficial, quando dito que se aplica especificamente a elas e/ou quando são enunciadas coisas lisonjeiras.

Em 1948 o psicólogo Bertram R. Forer deu a cada um de seus alunos um teste de personalidade, contendo um texto confeccionado a partir de vários textos menores de um horóscopo de banca de revista:

“Você sente necessidade de que outras pessoas gostem de si e o admirem, e ainda assim tende a ser crítico em relação a si mesmo.
Embora tenha algumas fraquezas de personalidade, geralmente é capaz de compensá-las.
Você tem uma considerável capacidade não utilizada, que ainda não usou a seu favor.
Disciplinado e com autocontrole por fora, tende a ser preocupado e inseguro no íntimo.
Às vezes tem sérias dúvidas sobre se tomou a decisão correta ou fez a coisa certa.
Prefere uma certa mudança e variedade, e fica insatisfeito quando é cercado por restrições e limitações.

Também se orgulha de pensar de forma independente, e não aceita afirmações de outros sem provas satisfatórias.
Mas descobriu que não é recomendável ser excessivamente sincero ao se revelar para outras pessoas.
Às vezes é extrovertido, afável e sociável, embora às vezes seja introvertido, cauteloso e reservado.
Algumas das suas aspirações tendem a ser irrealistas.”
Forer pediu aos alunos que avaliassem o teste com notas de 0 a 5, sendo 4 “bom” e 5 “excelente”.

A média ficou em 4,26, e em todas as repetições do teste até hoje a média sempre tem girado em torno de 4,2.
Forer conseguiu mostrar, então, que a maioria das pessoas acredita no que quer que seja dito sobre elas quando a informação corresponde àquilo que elas querem que seja verdade e/ou quando fornece dados genéricos e rasos, aplicáveis a qualquer pessoa, mas que parecem específicos por se aplicarem a maioria das pessoas ou a uma seleta minoria da qual, por acaso, fazemos parte.

Ainda que algo que é dito sobre nós seja falso, tendemos a aceitar se for positivo e lisonjeiro e/ou se nos for dito e por nós acreditado que se aplica especificamente a nós.
Neuroticismo, necessidade de aprovação, e autoritarismo estão, muitas vezes, por trás dos perfis do Efeito Forer.
A Astrologia apenas faz descrições genéricas, predições rasas e aconselhamentos inespecíficos e superficiais.
Não encontra base científica, sendo não mais que uma superstição antiga que ignora os desenvolvimentos da Astronomia, da Física e da Matemática e que, surpreendentemente, gera dinheiro, em razão da ingenuidade humana.


Referências
Enciclopédia Mirador Internacional. Vol. 3, p. 917-922. São Paulo:
Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1981.

http://brazil.skepdic.com/forer.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Astrologia
http://historiaereligionis.wordpress.com/

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