terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Xamanismo Celta.



Imagine viver em um mundo onde as grandes forças da natureza não são temidas, mas compreendidas. Imagine viver num mundo onde cada pessoa fosse responsável por seu destino; imagine um mundo em que ao invés de manipular as energias da natureza os seres humanos se inspirassem em sua beleza, seu poder oculto e sua inesgotável energia. Gostou?
Pois saiba que esse mundo existe: é o mundo do druidismo.
Para muitas pessoas, a figura do druida é geralmente a de um velho senhor de longas barbas brancas trajando vestes igualmente brancas, com um cajado à mão e capaz de controlar os elementos e operar magia.

A imagem acima se aplica perfeitamente a Panoramix, o famoso druida da tribo de Asterix, personagem eternizado pelos quadrinhos e agora no cinema; também corresponde com precisão ao mago Gandalf de "O Senhor dos Anéis" e também a Albus Dumbledore, das aventuras de Harry Potter.
Apesar dessa visão clássica ainda persistir, ela está longe de ser a única imagem dos druidas.

Vindos de diversos segmentos sociais, pertencendo a ambos os sexos e a diversas faixas etárias, os druidas modernos buscam no passado a inspiração para criar um futuro melhor. Mas que passado é esse?

Entre os celtas, o mais importante povo da Europa pré-clássica, os druidas eram conhecidos como grandes sacerdotes e filósofos.
Os historiadores gregos e romanos descrevem seus rituais e a importância atribuída a eles pela população das tribos celtas.
Suas funções, porém, ultrapassavam em muitas as de um mero sacerdote: conhecedores dos mistérios da natureza estudavam as propriedades mágicas e curativas de plantas, ervas e árvores.
Eram também os responsáveis pela preservação da cultura, pois eram os guardiães da história e das lendas da tribo, eternizando os feitos dos reis e rainhas em versos de rara beleza.
Poetas por excelência cantavam seus conhecimentos em versos que deviam ser memorizados e também atuavam como legisladores nas disputas pessoais e inter-tribais. Por fim, eram também conselheiros dos reis e rainhas celtas, em muitas vezes exercendo sobre eles a autoridade que advém não do poder, mas do respeito.
Por tudo isso pode-se dizer que os druidas eram o pilar ao redor do qual toda a sociedade celta se estruturava.

A chegada do Império Romano e a posterior adoção do cristianismo apagou a estrutura sócio-cultural celta, mas os conhecimentos dos druidas sobreviveram através dos séculos em poemas, lendas e sagas que podem, quando verdadeiramente compreendidos, resgatar a sabedoria druídica.
Mas no que criam os druidas?

Para os druidas de ontem e de hoje, o universo é todo feito de energia, e energia é, no fim das contas, a melhor definição para a alma.
Logo, tudo no universo tem alma, merecendo assim ser respeitado e compreendido.
A espiritualidade celta é rica em exemplos de árvores vivas, animais que se comunicam com humanos, rios que na verdade são o corpo de uma deusa, assim como bosques são o corpo de diversos deuses.
Quando se adota uma visão dessas, fica difícil poluir um rio - afinal, seria o mesmo que matar uma deusa!
Quanta devastação teria sido evitada se os princípios do druidismo ainda estivessem arraigados em nossas práticas...

Pois é justamente isso que faz do druidismo moderno um caminho espiritual válido: ao invés de prometer uma vida eterna de paz ou tormentos, ao invés de prometer a evolução na outra vida, o druidismo põe nosso destino próprio em nossas mãos - bem como o de toda a criação.
Os druidas e druidesas modernos, em seus jeans e camisetas, ternos e gravatas ou mesmo em suas túnicas rituais, lutam pela criação de um mundo mais justo, com as armas que têm em mãos: a ação; a poesia; o trabalho.

O druidismo é um caminho mágico, para aqueles que não se conformam em esperar por um líder ou em seguir cegamente o que lhes é ditado.
O druidismo é um caminho de crescimento espiritual pessoal, individual, íntimo.
É um caminho transformador, que dá a todos nós a possibilidade de fazer a diferença.

Nesse mundo, aprendemos a nos relacionar de forma honrosa com o ambiente em que vivemos.
Aprendemos a nos maravilhar com as coisas mais simples do dia-a-dia, tirando delas a inspiração que nos permite viver de forma mais digna, mais íntegra.
Nesse mundo, cada dia é uma bênção, cada gesto é uma transformação, cada alvorada é uma nova promessa, cada palavra uma fonte de inspiração.
O druidismo é um mundo em que aprendemos a conhecer melhor os segredos do universo e, por conseqüência, aprendemos a conhecer melhor a mais complexa e importante fonte de magia que existe: nós mesmos.
Bem vindo ao mundo do Druidismo!

Texto: Claudio Crow Quintino
Autor de "O Livro da Mitologia Celta" e "A Religião da Grande Deusa"





 

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